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Origens
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A freguesia do Beato é constituída por vários
lugares que vão desde a Alameda do Beato até à
encosta da Picheleira, passando por Xabregas e pelo Vale de Chelas -
lugares repletos de história, principalmente Chelas e Xabregas.
À origem de Chelas atribui-se algumas lendas, mas quanto ao
verdadeiro significado da palavra Chelas não há certezas,
embora alguns historiadores atribuem-lhe uma etimologia latina (planella
chaela = pequena planície). Em relação a Xabregas
a toponímia histórica não deu uma explicação
segura. Devido à sua localização junto ao Tejo,
há quem relacione o nome com Xavega (do árabe xabaka),
rede de arrasto. O nome Xabregas também pode ser associado à
existência de uma povoação romana chamada Axabrica,
tendo em conta os vestígios da respectiva povoação
encontrados na zona.
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Séculos XII a XIV
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teatro ibérico |
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Após a reconquista de Lisboa e arredores em 1147, o rei fez
numerosas doações de terras ás ordens militares
e religiosas, assim como a elementos da nobreza. O território
que hoje integra a freguesia do Beato existia já nos inícios
do século XIII, sendo na altura constituído por vinhas,
olivais e almoínhas.Em 1149 e 1150, as terras de Marvila, que
na altura abrangiam parte da actual freguesia do Beato, foram doadas
ao Bispo e ao Cabido da Sé de Lisboa. As inquirições
de 1220 eram os grandes proprietários na zona, além da
Ordem de Santiago (vinha em Chelas), o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
(vinha e olival em Concha) e os Templários (vinhas, olivais e
almoínhas em Xabregas e Concha).Em meados do séc. XIII,
D. Afonso III terá mandado construir um paço em Xabregas,
o Paço Real de Xabregas, onde actualmente fica o edifício
do Convento de Xabregas (Instituto de Emprego e Teatro Ibérico).
Algumas referências mencionam uma torre e um laranjal, e em 1373,
o paço de Xabregas foi incendiado, ficando em ruínas até
meados do séc. XV.Em 1397, foi criada a freguesia de Santa Maria
dos Olivais e nela ficou incluída toda a área do actual
Beato.
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Séculos XV e XVI
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Convento do Beato |
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Em 1455, a rainha D. Isabel deixou em testamento oito mil coroas de
ouro para a obra do convento que ficaria a ser designado por Convento
de S. Bento de Xabregas, sendo mais tarde convertido em sede principal
da Ordem de S. João Evangelista (Loios). Por essa altura, estava
concluído, a ocidente, o convento de Santa Maria de Xabregas,
no local das ruínas do Paço Real, que ficaram ao abandono
desde o incêndio.No século XVI, Xabregas era um lugar dos
mais aprazíveis do Termo de Lisboa, com as suas hortas e pomares,
e também uma praia. D. João III pretendia construir no
local uns "magníficos - paços régios, mas tal obra
não terá passado dos alicerces. Era na praia de Xabregas
que se realizavam torneios de cavalaria, touradas e os tradicionais
jogos de canas.Em 1570, frei António da Conceição,
vindo de Évora para o convento de S. Bento de Xabregas, onde
se viria a destacar no auxilio aos pobres e nas obras de renovação
do convento. Ao falecer, em 1602, tinha ganho a fama de santidade e
o povo chamava-lhe o Beato António, e à sua obra, Convento
do Beato António, depois mais simplesmente Beato, nome que hoje
denomina a freguesia.
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Séculos XVII a XVIII
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escola primária nº 20 |
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Em 1640, Xabregas/Beato era um dos mais activos centros de conspiração
para acabar com o domínio filipino. Um dos fidalgos conspiradores
era D. Gastão de Sousa Coutinho, cujo palácio era junto
à calçada que ainda tem o seu nome e onde está
hoje a Escola Primária n.º 20. Em 1644, D. Gastão
mandou edificar junto do seu palácio, uma ermida dedicada a N.
Sª. da Restauração, da qual não restam vestígios.
O palácio tinha cais fluvial próprio, onde actualmente
se situa a Rua da Manutenção e onde ainda se pode observar
alguns vestígios.
Em 1662 , a rainha D. Luisa de Gusmão retirou-se para uma quinta
entre Xabregas e Marvila "em sitio muito agradável sobre o rio
Tejo’, num lugar chamado Grilo. Ali fundou um convento de religiosas
Agostinhas Descalças (no local da actual Manutenção
Militar) e quase em frente outro convento para os Agostinhos Descalços
(Igreja de S. Bartolomeu e Recolhimento. No final do século havia,
desde Xabregas ao Beato, quatro conventos, e que ao considerarmos outros
tantos que ficam perto (Santa Brígida de Marvila, Chelas, Madre
de Deus e Santos-o-Novo), podemos calcular a elevada presença
de frades e de freiras entre a população local.
Aquando do terramoto de 1755, que não fez muitos estragos na
zona, só o Convento de S. Francisco sofreu maiores danos, e considerando
o desenvolvimento local foram as razões para o Beato ter sido
escolhido para se estabelecer uma das paróquias da cidade - a
paróquia de S. Bartolomeu. Sendo uma das freguesias mais antigas
de Lisboa, desde de 1168, S. Bartolomeu tinha sede nas vizinhanças
do Castelo. Depois do terramoto, esteve provisoriamente instalada na
ermida de N. Sª do Rosário e mais tarde estabelecida na
igreja do Beato António, também chamada de S. Bento de
Xabregas.
A mudança de freguesia, do Castelo para o Beato, levou a que
tivesse de lhe ser demarcado um novo território, à custa
de uma parte da área da freguesia de Santa Engrácia e
de outra parte retirada à freguesia de Santa Maria dos Olivais.No
final do século XVIII, a freguesia do Beato tinha 380 fogos e
1500 habitantes. Em 1777, foi construído o palácio Duque
de Lafões e em 1785 se estabeleceram, no Vale de Chelas, as primeiras
unidades fabris - duas estamparias de chitas.
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Século XIX, Palácios e Conventos dão lugar a
Fábricas
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Convento do Grilo |
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Em 1814 já existiam três fábricas de estamparia
no Vale de Chelas, no entanto, «a verdadeira transformação
do mundo rural de Xabregas/Beato ocorreu a partir da extinção
das ordens monásticas, após a revolução
liberal de 1832-34.»(Pelas Freguesias de Lisboa, C.M. de
Lisboa, 1993)As primeiras unidades industriais importantes, estabeleceram-se
em edifícios religiosos ou em palácios.A Companhia de
Fiação de Tecidos Lisbonense foi a primeira fábrica
a instalar-se em Xabregas, no convento de S. Francisco de Xabregas.No
Convento dos Grilos, em 1835, e por já não ter frades,
instalou-se o Recolhimento de Nossa Senhora do Amparo, transferido da
Mouraria. A igreja passou a ser a sede paroquial de S. Bartolomeu do
Beato, em 1836, vinda do vizinho convento do Beato António. Esta
zona, apesar da rápida mutação em curso, continuava
a ser um espaço agradável, sendo dos mais preferidos para
os passeios de domingo do povo lisboeta.Em 1852, foram definidos novos
limites para a cidade e construída a Estrada da Circunvalação,
ficando a freguesia do Beato fora dos limites da cidade. Na mesma altura,
era criado o concelho dos Olivais e nele ficou integrado a freguesia
do Beato até 1886.
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Caminho de Ferro e Industrialização
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Ponte de ferro de Xabregas |
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A inauguração do caminho de ferro, em 1856, foi um acontecimento
marcante a vários níveis, não só pela dinamização
da industria, mas também pela modificação da paisagem
local, através da abertura das barreiras e de infraestruturas
como a ponte de ferro Xabregas (proj. Do eng. Valentine, 1854).Outro
marco histórico foi, em 1854, a fundação da Fábrica
de Fiação de Xabregas, de proprietários estrangeiros,
iniciando a laboração em 1858, depois de se constituir
em Companhia do Fabrico de Algodões. Trabalhando várias
pessoas, foi por iniciativa dos proprietários da fábrica
que foram edificadas, em 1867 e 1877, as primeiras vilas operárias
em Xabregas. Em 1888, foram construídas mais duas vilas, de maiores
dimensões, a Vila Flamiano (inicialmente destinadas aos mestres
e contramestres) e a Vila Dias (para os operários). Ao todo foram
construídas 106 casas no bairro operário da Companhia
do Fabrico de Algodões.
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Antiga Fábrica de Fiação de Tecidos Oriental |
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De grande importância foi também a Fábrica de Fiação
de Tecidos Oriental, fundada em 1888, na rua de Xabregas (onde actualmente
funciona um centro comercial) e que empregava 425 operários.
Na rua de Xabregas e na rua do Grilo existiam armazéns de retém
e droguistas.Nos finais do século XIX, trabalhavam nas fábricas
de Xabregas entre 800 a 1000 operários, surgindo na altura um
forte movimento associativo, como, em 1903, a cooperativa "A Xabreguense’
(Beco dos Toucinheiros) e Cooperativa Operária Oriental (Largo
de Dom Gastão).O receio de uma revolta operária, resultado
de anteriores greves e lutas por parte dos operários das várias
fábricas existentes na zona, foi motivo de instalação
de esquadra da policia na Vila Dias.
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Vila Dias |
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A população residente na freguesia do Beato aumentou
desde então, registando em 1801e 1991:
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1801
1820
1840
1864
1878
1890
1900
1911
1920
1930
1940
1950
1960
1970
1981
1991 |
2 560
2 000
1 616
2 393
3 485
6 215
10 398
17 122
14 850
15 927
16 949
22 555
20 129
20 000
20 718
21 180 |
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No entanto, as quebras demográficas nos censos de 1920 e de
1960, resultam da redução da área da freguesia,
com a criação da freguesia Penha de França, em
1918, e com a remodelação administrativa de 1959. (Informação
retirada da publicação - Pelas Freguesias de Lisboa
- C.M. de Lisboa, 1993).
Em 1896, foram inauguradas as Cozinhas Económicas (rua de Xabregas,
44) garantindo um mínimo de alimentação a muitas
famílias operárias que viviam numa situação
onde as condições de vida, trabalho e habitação
eram cheias de dificuldades.
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Século XX
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Construção do Porto de Lisboa |
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No ano de 1900, a freguesia do Beato tinha 2215 fogos e 10 398 habitantes.
Mais tarde, em 1922, são suprimidas as barreiras fiscais à
entrada da cidade e em 1925, arrancava a 3ª fase de construção
do Porto de Lisboa. Nessa época a zona era descrita assim:«bulício
industrial, rumorejante de trabalho, as fábricas, as oficinas,
armazéns, cais, caminho de ferro, vida viva que Lisboa central
não conhece senão de passar de eléctrico debaixo
do viaduto do comboio, indiferentemente». (Pelas Freguesias
de Lisboa, C.M. de Lisboa, 1993).
Em 1933, na Vila Maria Luísa existia uma escola primária
para rapazes (Escola Primária n.º 20), sendo nessa altura
as aspirações da freguesia equipamentos como uma escola
feminina, um balneário público, um mercado, e infra-estruturas
como iluminação, abastecimento de água e esgotos.
No inicio da década de 40, começou a obra do bairro social
da Madre de Deus, foi aberta a Av. Infante D. Henrique e começou
a ser executado o Plano de Melhoramentos do Porto de Lisboa.Nos anos
50, é realizada a inauguração do Mercado de Xabregas
e a remodelação administrativa da freguesia, em 1959,
que lhe fixou os limites actuais.
Em 1965, o plano inicial de urbanização de Chelas, previa
a transformação da área industrial do Vale de Chelas
em área urbanizada. No entanto, nos anos 70, a imagem do local
era descrita como um desolador "cemitério de fábricas’,
situação que ainda hoje existe.
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"Cemitério de Fábricas" |
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