Casa Monsaraz - Aires Mateus - Portugal

Porquê escolher outra casa mais simples, quando essa é cheia de curvas complexas?

Caminhada poética através da Casa Monsaraz

Que bom.
Que bom poder descansar e relaxar nessa casa, onde reina um imenso sossego e uma pura serenidade...

Que bom.
Que bom poder sentir-se em simbiose com a natureza… Simplesmente...

As manhãs de nevoeiro, a tranquilidade da casa e da natureza que a rodeia, unem-se harmonicamente para criar uma plenitude mágica.
As estrelas, o céu, as árvores, as plantas e até a terra abraçam a casa...escondida nas profundidades da Terra.

Esta caverna moderna consegue assim, com uma discreta sobriedade, camuflar-se perfeitamente na paisagem alentejana e criar, então, um real abrigo recuado e confortável, para quem a habita.

Para um gato vagabundo, só se consegue dessa maneira distinguir ao longe, a entrada secreta de uma gruta… que na realidade, para os seus ocupantes, é uma esplêndida cúpula minimalista, semi-coberta por um chapéu natural.
O seu invólucro exterior, em betão claro, permite assim, além de incorporar e enraizar a casa na imensidão do terreno, relembrar a rocha bruta de uma gruta primitiva...

Que bom.
Que bom sentir-se abrigado e protegido em casa.

Que bom.
Que bom poder desfrutar de um espaço intermediário aconchegado - entre o interior e o exterior - para poder sair serenamente da sua pequena toca…

Na escuridão da noite, a pequena abertura no seu domo, revela então aos sonhadores aventureiros uma vista feérica!
Através do seu monóculo, a lenta dança da Lua no meio do desfile das estrelas cadentes oferece, desde então, instantaneamente uma profunda quietude… devido à vastidão e ao infinito.

Que bom.
Que bom poder desligar-me do mundo.

Que bom.
Que bom deixar o meu relógio no outro mundo.

Quando a nossa Estrela acorda e sobe ao palco, essa janela aberta ao imaginário, propõe um espetáculo luminoso extraordinário.
Em dias em que o Sol brilha, a abertura encantada da cúpula, transforma-se em um relógio de sol fascinante...quando ao meio dia, a Manhã deixa de brincar com as últimas sombras do nascer do dia e veste o seu traje da tarde.

Que bom.
Que bom poder aproveitar, ao longo do dia, de um panorama constantemente de uma calma efervescente.

Que bom.
Que bom poder refugiar-me dentro da minha caverna e assistir, desde do interior, a essa cena da natureza.

Em dias em que as nuvens estão melancólicas, a brilhante coreografia desse indicador temporal metamorfoseia-se em um chafariz encantador e musical.

Que bom.
Que bom poder recolher-se em casa tomando um chocolate quente para aquecer a sua alma; ou ler um livro, a manta nos joelhos, deitado no sofá e ver através das gigantes aberturas, a natureza.

Que bom.
Que bom poder entrar ainda mais na profundidade da Terra, para hibernar…. e acordar só, uma vez que, a tempestade passa, com a luz do Sol a refletir-se infinitamente nos azulejos brancos dos pátios interiores e a ser convidado assim, pelos astros, à superfície.

Para isso, existe um atalho: umas escadas ultra-secretas no fundo da caverna, que permitem atingir o nível superior.
Mas, para não sair da minha utopia, prefiro esquecer que elas são a conexão com a realidade frenética do mundo exterior; e lembrar-me então que elas simbolizam para mim, as minhas caminhadas terrestres e astrais...

Que bom.
Que bom ser um sonhador enraizado em Monsaraz.


Emilie Costa

Minha proposta



Inspiro… Expiro... Inspiro... Expiro... Inspiro... Expiro...
Profundamente…
Assim começa, ao sair de casa, o meu caminho de pensamento até ao meu recanto.

Inspiro... Expiro... Inspiro... Expiro...
Esta viagem de interiorização, quase de espiritualidade, inicia neste momento...
A necessidade de elevar-me até à superfície, para penetrar novamente a profundidade da Terra, é fundamental para começar o meu êxodo meditativo de criação.

Inspiro... Expiro... Inspiro... Expiro...
O meu corpo começa a ser recetivo às sensações e aos estímulos exteriores.

Inspiro... Expiro.... Inspiro... Expiro...
Ao abrir a porta, com a curiosidade de quem abre o seu armário de guloseimas, o meu corpo se arrepia em frente à escuridão deste corredor sem fim...o que provoca em mim, uma fina instabilidade na minha frequência cardíaca.

INSPIRO. Profundamente, para ter a coragem de entrar em sintonia com este túnel, intimidante.

Uma vez, esta pesada porta de madeira fechada nas minhas costas, o estímulo dos meus sentidos está total : a minha vista reduz-se e focaliza-se na busca da saída, semicerrando os olhos; as minhas mãos seguram as paredes frias de betão, como quem descobre os segredos enterrados de uma pirâmide; a minha audição entra em alerta e cada passo que faço, faz ressoar o barulho do cascalho espalhado debaixo dos meus pés; o eco da minha respiração -que se faz cada vez mais intensa- bate ele, freneticamente até eu puxar a porta de saída, com as duas mãos, braços estendidos, como quem puxa uma porta de emergência, para se aliviar.

EXPIRO. Profundamente.
Assim, a passagem instantânea da escuridão cativeira à luminosidade libertadora, desata momentaneamente os meus pensamentos. O ritmo do meu coração acalma-se e entra em simbiose com a minha concha de luz preferida.




Que bom.
Que bom estar no meu refúgio secreto, que recopila os meus recantos favoritos da minha casa.
Que bom.
Que bom estar longe espiritualmente da minha casa, mas perto dela, simbolicamente.

Antes de tudo… descalço-me para finalizar o processo de purificação com o exterior. O meu primeiro ritual, permite-me assim sentir o calor da madeira, que contrasta com o betão do meu ninho, para entrar em contacto com as energias terrestres.

Que bom.
Que bom ter o seu jardim secreto.
Que bom.
Que bom poder pensar e imaginar, descansado.

Só depois… deste longo percurso de introspecção, é que aproveito o meu jardim de contemplação.
Pronta. Para pensar, recolher-me e trabalhar...Vagabundando de um recanto ao outro.

Que bom.
Que bom tomar um chocolate quente em pé, na extrema continuação do túnel, olhando para a serenidade do lago.
Que bom.
Que bom, sentar-me à minha mesa, que movo sempre que me apetece : frente à janela para ver a intensa chuva a cair através do monóculo mágico; à beira da fogueira para aquecer-me ou então no terraço para aproveitar do ar puro do Alentejo.

Que bom.
Que bom ter o meu prazer inconfessável, no meu esconderijo, ao fundo do meu túnel de purificação.
Que bom.
Que bom poder estar sentado no meu trono e continuar a pensar e imaginar, contemplando o sortilégio mágico da natureza.

Eu... a minha alma…. entrando em fusão com o universo... sozinhos frente ao mundo.
Que bom.
Que bom ser um pensador na Lua, mas enraizado em Monsaraz.


Emilie Costa

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